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Eleições

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"Não te metas com questões republicanas, porquanto República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque lhes falta educação e respeito." (Carta do Marechal Deodoro da Fonseca ao sobrinho)

A frase à epígrafe mostra que a nossa República já nasceu torta. Nem aquele que a proclamou acreditava nela. No livro 1889, Laurentino Gomes detalha o quanto Deodoro relutava em assumir o papel que lhe caberia na história. Só se converteu ao projeto republicano, a contragosto, forçado pelas circunstâncias. Enquanto o povo não se educar politicamente, a profecia do Marechal permanecerá válida.

Usualmente, na data da proclamação da República, acontecem as eleições em nosso país. Desta vez, para prefeitos e vereadores. Falando a verdade, fora o marketing dos candidatos, sobra pouca coisa. Parece uma espécie de ritual, em que tudo muda para permanecer mais ou menos o mesmo. É como diz a letra de uma música antiga: "A mesma praça, o mesmo banco. As mesmas flores, o mesmo jardim. Tudo é igual...".

A cada quatro anos, temos que escolher mais ou menos os mesmos rostos. Sim, porque, no tocante aos candidatos a vereador, eles só têm tempo mesmo de mostrar o rosto na TV. Quanto aos candidatos a prefeito, quem está na prefeitura, geralmente pede votos para completar o trabalho iniciado; o que não deixa de ser uma confissão de fracasso também. Quem está na oposição, faz o discurso da "mudança"; termo por si só desgastado pelo excesso de uso.

Teve inclusive um candidato que se superou: prometeu criar uma "lei municipal de liberdade econômica". Alguém deveria lembrá-lo que ele está atrasado em cerca de dois séculos e meio. Esse brado de liberdade foi ecoado, primeiramente, pelos capitalistas (na França, no séc.18) contra a interferência dos reis absolutistas nos seus negócios, através do grito laissez-faire, que significa algo como "deixem-nos em paz". Coube a Adam Smith a tarefa de escrever as "leis de liberdade econômica" no seu livro A Riqueza das Nações (publicado em 1776).

Votar no escuro, por opção, sempre existiu. Funciona, mais ou menos, como um protesto contra o voto obrigatório. O sujeito é um cético. Cansou de se decepcionar com as escolhas que fez no passado. "Ninguém presta, costuma desabafar" e vota em qualquer um. Mas, neste ano, o voto no escuro não será voluntário. Será inevitável. O eleitor, trancado em casa por causa da pandemia, não terá a mínima chance de conhecer o candidato. Se tiver boa memória, se lembrará dos candidatos mais conhecidos que concorrem à reeleição. Isso faz um mal danado à democracia, pois impede a renovação política.

Há quem discorde desse ponto de vista, por causa do acesso às redes sociais. Não aposto muito nisso. Os aplicativos de mensagens e grupos na internet são mal usados na política, pois o crescimento mental das pessoas corre atrás do crescimento da tecnologia. Cada um só fala com sua própria "tribo", ignorando as opiniões contrárias. Sem contar que servem para disseminar mensagens falsas na internet, confundindo os eleitores.

O que fazer? Não tem saída, venda caro o voto. No mínimo, procure no Google o currículo de cada candidato para ver a sua trajetória e coerência. Não vote de qualquer jeito simplesmente para ficar livre e aproveitar o resto do dia. Você terá quatro anos para se arrepender e reclamar. Se não achar outro critério, vote na base "dos males, o menor". Mas, lembre-se, essa responsabilidade é sua e de mais ninguém!

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